A primeira vez que muitos de nós viram o Rui Costa jogar foi no Campeonato do Mundo de Sub-21, em Lisboa, decorria o ano de 1991. O adversário era a Austrália e disputava-se um lugar na final. De repente...um "golaço"! Um pontapé daqueles que nos faz ficar em suspenso durante uma eternidade até a "redondinha" entrar nas redes...que golo! Quem seria este jogador, que tinha acabado de marcar um dos golos mais bonitos que tínhamos visto na vida? Lembramo-nos que usava nas costas o número 5, o número do nosso ídolo na altura, o grande Mozer, o nosso central mais valioso de sempre. Naquele momento sentimos aquele arrepio na espinha que nos leva às lágrimas... Caramba, que grande golo! Lembramo-nos de o ver correr com a felicidade estampada no rosto, eufórico, radiante... O público, de pé e ao rubro, ainda não sabia que estava na presença de um dos melhores jogadores de sempre do futebol português.
Dias mais tarde éramos mais de 100 mil, eufóricos, nervosos, concentrados a apoiar uma das gerações mais brilhantes da história do futebol português. Éramos tantos... O adversário era de peso, nada menos que o sempre poderoso Brasil. O jogo foi decorrendo e golos nem vê-los. Fomos para os penaltis, parecia que por momentos o tempo tinha parado...A multidão estava confiante, desta vez não podíamos falhar, nem queríamos falhar, não podíamos, estávamos proibidos por uma força maior... Pensar que não seríamos campeões do Mundo estava completamente fora de hipótese. Os remates da marca de grande penalidade foram sendo marcados, os brasileiros falharam dois, o Estádio da Luz em contenção... Silêncio total. Lembramo-nos de ver o Rui a caminhar para a grande área, de pegar na bola com aquele jeito tão especial, lembramo-nos de o ver recuar 3 ou 4 passos... Nem uma brisa. Lembramo-nos de o ver a olhar para o guarda redes... de o ver arrancar...em câmara lenta...a rematar...na nossa cabeça pensámos, já está!... A bola entrou no ângulo superior esquerdo da baliza, sem chances, sem a mínima hipótese de defesa, um dos penaltis mais bem marcados que vimos na nossa vida... Lembramo-nos de o ver a correr que nem um louco em direcção à bandeira nacional, saltar para a vedação e agarrar-se às pessoas. Lembramo-nos de abraçar toda a gente que ali estava, de chorar de alegria e de assistir a uma explosão de glória e de dever cumprido... E lembramo-nos de ver o Rui agarrado ao Figo, ao João Pinto... Lembramo-nos de pensar, é aquele...! O tal do número 5, o tal do Benfica, o grande Rui Costa!
Nas épocas seguintes o Rui entrou pela "mão" de Eriksson na equipa principal do Benfica. Era ainda um menino mas cada vez que entrava em jogo os adeptos sentiam a magia e o talento nos seus pés. Um dia Jorge Valdano disse: «Na zona da definição existem tantos defesas rivais que os espaços aparecem e desaparecem em fracções de segundo. Há quem os vê e quem os não vê. Quando um jogador os vê, decide o passe, executa-o e acerta quase simultaneamente (e nisso se gasta uma fracção de segundo . estamos perante o mago que saca pássaros da cartola. São os pássaros que tem na cabeça.» Não nos enganámos. Com o decorrer dos anos Rui Costa foi crescendo e começou a desenhar uma carreira cheia de pássaros na cartola, cheia de magia, cheia de glória... No ano de 1996, disputava-se o Campeonato da Europa, a Selecção tinha mais uma prova de fogo, Rui e os seus colegas jogavam o futebol mais bonito do Mundo, estavam todos eles a "explodir" aos poucos, a tornarem-se grandes jogadores, o futebol do Rui era espantoso, naquele Torneio o Mundo rendeu-se ao talento de uma equipa, Portugal ! Rui foi eleito o melhor médio do torneio tendo feito parte do onze ideal da prova, estava definitivamente provado, se é que ainda existissem dúvidas, que estávamos perante um dos melhores "regista" de todos os tempos, um dos verdadeiros número 10. O "miúdo" do número 5 tinha duplicado o seu valor. O "Maestro" tinha nascido ali e ali iria estar, nos relvados durante muitos anos a espalhar o seu perfume, a sua classe, o seu jogo... Tantos pássaros vimos nós a serem tirados da cartola... Como aquele que voou 40 metros, numa noite de chuva, para nos dar o apuramento para o Euro 2000, perante uma Irlanda destroçada... Como um outro que foi ao encontro da cabeça de João Pinto e que "arrumou" a armada inglesa, como tantos que fomos vendo voar dos pés do "Maestro". Mas nenhum se compara ao que vimos a voar em 2004, em Lisboa, na nova versão do mesmo Estádio da Luz que assistira àquele penalti marcado de forma exemplar por aquele miúdo franzino, o tal do número 5, treze anos antes. Uma águia real que sobrevoou todo o campo até se transformar numa bola de fogo que entrou a 200 km à hora na mesma baliza onde o penalti decisivo tinha sucedido. Foi um dos grandes golos das nossas vidas, o golo que nos levou à alegria suprema de um jogo de Futebol, o golo de honra de um grande jogador, de um grande homem, de um grande desportista. Aquele golo contra os ingleses, numa altura em que Deco era a sombra do "10", foi para nós e para muitos a prova de que ainda era o Rui que comandava, ainda era ele o guerreiro que surgia na linha da frente quando tudo parecia acabado, um verdadeiro comandante... Lembramo-nos de o ver a correr que nem uma criança, agarrado pelo "puto" Ronaldo, abraçado ao Figo, exactamente no mesmo sítio onde já tínhamos sido felizes, que momento... Lembramo-nos de o ver no chão e pensar, em lágrimas: - Saiam de cima dele, ainda o aleijam! Esse sim, o nosso maior receio, o receio do fim... Esse fim que nos leva à morte da paixão, o fim do génio, o fim dos voos daqueles pássaros mágicos tirados da cartola, nem queremos pensar nesse fim, nem nós nem qualquer benfiquista...
Escrevemos estas palavras no fim de uma época em que o Rui voltou à sua casa, ao seu clube, uma época em que assistimos ao sonho de um homem que queria fazer feliz os que sempre o acarinharam, o homem que queria ver de novo os seus pássaros a voar. Vimos muitas vezes esta época o Rui desesperado por não conseguir resolver as piores situações, vimos o Rui a dar tudo em campo, a liderar aqueles jogadores que o respeitam tanto, vimos a desilusão no seu rosto... Mas também vimos a sua alegria sincera quando foi recebido por mais de 5.000 adeptos em delírio, a sua explosão quando nos deu o acesso à Liga dos Campeões, ao seu regresso contra o F.C. Porto, para fazer uma segunda parte de sonho e dominar uma das grandes equipas da nossa liga, vimos novamente a sua classe, a sua elegância, a sua inteligência e seu amor pelo seu clube. Por tudo isto achamos que vale a pena pensar que afinal esse receio do fim ainda não chegou, que ainda estamos longe, bem longe, de perder o nosso ídolo, de deixar de o ver jogar pelo nosso clube, esse clube tão mágico e tão especial, o Benfica.
Sabemos que o Rui quer mais, sabemos que não quer acabar assim, temos a certeza que a próxima será a sua melhor época. Sabemos que estaremos lá, no mesmo sitio onde o vimos chorar quando marcou a Preud'Homme, no mesmo sítio onde vimos o golo contra os irlandeses, no mesmo sítio onde vimos a "bomba" que tanta mossa fez na selecção inglesa. Estaremos lá para ver voar mais pássaros, para ver de novo a alegria a explodir no rosto daquele menino de número 10 nas costas, de o ver a correr de braços abertos para o "seu" público, para o "seu" povo, a "sua" gente. Sabemos isso e muito mais...
Sabemos que será sempre o jogador que melhor vimos jogar futebol! Sabemos que vamos sempre vê-lo a correr naquele relvado, a levar a bola com a elegância de um mestre. Vamos ter sempre a companhia das "bombas" de oxigénio que respira cada vez que faz um compasso de espera, cada vez que faz um passe milimétrico, cada vez que olha para o céu... Sabemos que vamos ver sempre aquele pássaro mágico a pairar por cima das nossas cabeças e a descer ao relvado... Sabemos disso até mesmo quando o pior dos nossos receios chegar! Sentimos ainda o mesmo arrepio...
Gostávamos que estas palavras dessem o resultado pretendido, que o Rui Costa estivesse connosco por mais uma época, ou mais, talvez... Só o "10" é que sabe, só ele é que sente quantos pássaros ainda tem para fazer voar, só ele é que pode decidir no maior respeito pelas suas capacidades e pelo clube que soube servir com ninguém. Mas pode contar com a certeza de que todos nós, os benfiquistas e todos os amantes da arte de bem jogar futebol, divulgaremos este pedido e faremos força para que este pássaro possa voar até à próxima baliza...
Sou alguém que gostaria de ajudar a melhorar o mundo, que acredita num mundo melhor e mais justo, mas desiludido com os homens que governam o mundo e com a justiça. Sou alguém que tenta espalhar boa disposição, apaixonado pela fotografia, que admira a beleza feminina, amigo dos amigos e que acredita nos sentimentos das pessoas.
Sou pai e estou cansado de lutar pela guarda do meu filho mais velho, contra tudo e contra todos, inclusive contra o sistema.
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Carta aos benfiquistas
A primeira vez que muitos de nós viram o Rui Costa jogar foi no Campeonato
do Mundo de Sub-21, em Lisboa, decorria o ano de 1991. O adversário era a
Austrália e disputava-se um lugar na final. De repente...um "golaço"! Um
pontapé daqueles que nos faz ficar em suspenso durante uma eternidade até a
"redondinha" entrar nas redes...que golo! Quem seria este jogador, que tinha
acabado de marcar um dos golos mais bonitos que tínhamos visto na vida?
Lembramo-nos que usava nas costas o número 5, o número do nosso ídolo na
altura, o grande Mozer, o nosso central mais valioso de sempre. Naquele
momento sentimos aquele arrepio na espinha que nos leva às lágrimas...
Caramba, que grande golo! Lembramo-nos de o ver correr com a felicidade
estampada no rosto, eufórico, radiante... O público, de pé e ao rubro, ainda
não sabia que estava na presença de um dos melhores jogadores de sempre do
futebol português.
Dias mais tarde éramos mais de 100 mil, eufóricos, nervosos, concentrados a
apoiar uma das gerações mais brilhantes da história do futebol português.
Éramos tantos... O adversário era de peso, nada menos que o sempre poderoso
Brasil. O jogo foi decorrendo e golos nem vê-los. Fomos para os penaltis,
parecia que por momentos o tempo tinha parado...A multidão estava confiante,
desta vez não podíamos falhar, nem queríamos falhar, não podíamos, estávamos
proibidos por uma força maior... Pensar que não seríamos campeões do Mundo
estava completamente fora de hipótese. Os remates da marca de grande
penalidade foram sendo marcados, os brasileiros falharam dois, o Estádio da
Luz em contenção... Silêncio total. Lembramo-nos de ver o Rui a caminhar
para a grande área, de pegar na bola com aquele jeito tão especial,
lembramo-nos de o ver recuar 3 ou 4 passos... Nem uma brisa. Lembramo-nos de
o ver a olhar para o guarda redes... de o ver arrancar...em câmara lenta...a
rematar...na nossa cabeça pensámos, já está!... A bola entrou no ângulo
superior esquerdo da baliza, sem chances, sem a mínima hipótese de defesa,
um dos penaltis mais bem marcados que vimos na nossa vida... Lembramo-nos de
o ver a correr que nem um louco em direcção à bandeira nacional, saltar para
a vedação e agarrar-se às pessoas. Lembramo-nos de abraçar toda a gente que
ali estava, de chorar de alegria e de assistir a uma explosão de glória e de
dever cumprido... E lembramo-nos de ver o Rui agarrado ao Figo, ao João
Pinto... Lembramo-nos de pensar, é aquele...! O tal do número 5, o tal do
Benfica, o grande Rui Costa!
Nas épocas seguintes o Rui entrou pela "mão" de Eriksson na equipa principal
do Benfica. Era ainda um menino mas cada vez que entrava em jogo os adeptos
sentiam a magia e o talento nos seus pés. Um dia Jorge Valdano disse: «Na
zona da definição existem tantos defesas rivais que os espaços aparecem e
desaparecem em fracções de segundo. Há quem os vê e quem os não vê. Quando
um jogador os vê, decide o passe, executa-o e acerta quase simultaneamente
(e nisso se gasta uma fracção de segundo . estamos perante o mago que saca
pássaros da cartola. São os pássaros que tem na cabeça.» Não nos enganámos.
Com o decorrer dos anos Rui Costa foi crescendo e começou a desenhar uma
carreira cheia de pássaros na cartola, cheia de magia, cheia de glória... No
ano de 1996, disputava-se o Campeonato da Europa, a Selecção tinha mais uma
prova de fogo, Rui e os seus colegas jogavam o futebol mais bonito do Mundo,
estavam todos eles a "explodir" aos poucos, a tornarem-se grandes jogadores,
o futebol do Rui era espantoso, naquele Torneio o Mundo rendeu-se ao talento
de uma equipa, Portugal ! Rui foi eleito o melhor médio do torneio tendo
feito parte do onze ideal da prova, estava definitivamente provado, se é que
ainda existissem dúvidas, que estávamos perante um dos melhores "regista" de
todos os tempos, um dos verdadeiros número 10. O "miúdo" do número 5 tinha
duplicado o seu valor. O "Maestro" tinha nascido ali e ali iria estar, nos
relvados durante muitos anos a espalhar o seu perfume, a sua classe, o seu
jogo... Tantos pássaros vimos nós a serem tirados da cartola... Como aquele
que voou 40 metros, numa noite de chuva, para nos dar o apuramento para o
Euro 2000, perante uma Irlanda destroçada... Como um outro que foi ao
encontro da cabeça de João Pinto e que "arrumou" a armada inglesa, como
tantos que fomos vendo voar dos pés do "Maestro". Mas nenhum se compara ao
que vimos a voar em 2004, em Lisboa, na nova versão do mesmo Estádio da Luz
que assistira àquele penalti marcado de forma exemplar por aquele miúdo
franzino, o tal do número 5, treze anos antes. Uma águia real que sobrevoou
todo o campo até se transformar numa bola de fogo que entrou a 200 km à hora
na mesma baliza onde o penalti decisivo tinha sucedido. Foi um dos grandes
golos das nossas vidas, o golo que nos levou à alegria suprema de um jogo de
Futebol, o golo de honra de um grande jogador, de um grande homem, de um
grande desportista. Aquele golo contra os ingleses, numa altura em que Deco
era a sombra do "10", foi para nós e para muitos a prova de que ainda era o
Rui que comandava, ainda era ele o guerreiro que surgia na linha da frente
quando tudo parecia acabado, um verdadeiro comandante... Lembramo-nos de o
ver a correr que nem uma criança, agarrado pelo "puto" Ronaldo, abraçado ao
Figo, exactamente no mesmo sítio onde já tínhamos sido felizes, que
momento... Lembramo-nos de o ver no chão e pensar, em lágrimas: - Saiam de
cima dele, ainda o aleijam! Esse sim, o nosso maior receio, o receio do
fim... Esse fim que nos leva à morte da paixão, o fim do génio, o fim dos
voos daqueles pássaros mágicos tirados da cartola, nem queremos pensar nesse
fim, nem nós nem qualquer benfiquista...
Escrevemos estas palavras no fim de uma época em que o Rui voltou à sua
casa, ao seu clube, uma época em que assistimos ao sonho de um homem que
queria fazer feliz os que sempre o acarinharam, o homem que queria ver de
novo os seus pássaros a voar. Vimos muitas vezes esta época o Rui
desesperado por não conseguir resolver as piores situações, vimos o Rui a
dar tudo em campo, a liderar aqueles jogadores que o respeitam tanto, vimos
a desilusão no seu rosto... Mas também vimos a sua alegria sincera quando
foi recebido por mais de 5.000 adeptos em delírio, a sua explosão quando nos
deu o acesso à Liga dos Campeões, ao seu regresso contra o F.C. Porto, para
fazer uma segunda parte de sonho e dominar uma das grandes equipas da nossa
liga, vimos novamente a sua classe, a sua elegância, a sua inteligência e
seu amor pelo seu clube. Por tudo isto achamos que vale a pena pensar que
afinal esse receio do fim ainda não chegou, que ainda estamos longe, bem
longe, de perder o nosso ídolo, de deixar de o ver jogar pelo nosso clube,
esse clube tão mágico e tão especial, o Benfica.
Sabemos que o Rui quer mais, sabemos que não quer acabar assim, temos a
certeza que a próxima será a sua melhor época. Sabemos que estaremos lá, no
mesmo sitio onde o vimos chorar quando marcou a Preud'Homme, no mesmo sítio
onde vimos o golo contra os irlandeses, no mesmo sítio onde vimos a "bomba"
que tanta mossa fez na selecção inglesa. Estaremos lá para ver voar mais
pássaros, para ver de novo a alegria a explodir no rosto daquele menino de
número 10 nas costas, de o ver a correr de braços abertos para o "seu"
público, para o "seu" povo, a "sua" gente. Sabemos isso e muito mais...
Sabemos que será sempre o jogador que melhor vimos jogar futebol! Sabemos
que vamos sempre vê-lo a correr naquele relvado, a levar a bola com a
elegância de um mestre. Vamos ter sempre a companhia das "bombas" de
oxigénio que respira cada vez que faz um compasso de espera, cada vez que
faz um passe milimétrico, cada vez que olha para o céu... Sabemos que vamos
ver sempre aquele pássaro mágico a pairar por cima das nossas cabeças e a
descer ao relvado... Sabemos disso até mesmo quando o pior dos nossos
receios chegar! Sentimos ainda o mesmo arrepio...
Gostávamos que estas palavras dessem o resultado pretendido, que o Rui Costa
estivesse connosco por mais uma época, ou mais, talvez... Só o "10" é que
sabe, só ele é que sente quantos pássaros ainda tem para fazer voar, só ele
é que pode decidir no maior respeito pelas suas capacidades e pelo clube que
soube servir com ninguém. Mas pode contar com a certeza de que todos nós, os
benfiquistas e todos os amantes da arte de bem jogar futebol, divulgaremos
este pedido e faremos força para que este pássaro possa voar até à próxima
baliza...
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